terça-feira, 3 de abril de 2012

Como o mundo vai acabar pelo ponto de vista da religião (SSI)


O mistério do fim do mundo é uma das maiores forças de inspiração das religiões. Na maioria dos casos, é só uma metáfora para a ideia de renovação, de começo de um novo ciclo - uma ideia parecida com a da ciência, diga-se.

Desde sempre, teólogos e profetas de todas as crenças têm debatido como o mundo vai terminar. Há uma certa obsessão com o tema. Afinal, uma história que não acaba fica sem um acerto de contas. Como então as autoridades lá de cima vão separar os bons e os maus, os justos dos canalhas, o joio do trigo? Para as religiões, o fim do mundo é uma peça importante do quebra-cabeça. A tradição judaica claramente se debruçou um bocado sobre esse problema, motivada sobretudo pelas circunstâncias. Quando os persas (ou macedônios, ou romanos, ou... coloque aqui o opressor da vez) pagarão por seus crimes contra o povo de Israel? Dá-lhes Juízo Final. No Velho Testamento bíblico, o Livro de Daniel, escrito no século 2 a.C., dá o tom: ele prevê a vinda do Messias, destinado a libertar os judeus do jugo de seus opressores e iniciar uma era de paz interminável. O fim do mundo, aqui, é algo bom: um novo começo. O cristianismo é uma continuação direta da tradição jucaica, com uma importante modificação: o Messias já deu uma passada pela Terra para formar um novo pacto entre Deus e os homens (basicamente zerar a conta da humanidade e redimi-la de seus pecados), mas deve voltar numa futura oportunidade para libertar os cristãos, derrotar o Anticristo e seus aliados e, por fim, iniciar uma era de paz interminável. É a mesma lógica: quando João escreveu seu Apocalipse, anunciado por trombetas celestiais, no século 1, os cristãos estavam sendo perseguidos e mortos pelos romanos. Assim como, quando o Livro de Daniel foi escrito, os judeus estavam sob o jugo dos macedônios.

O fim do mundo como danação para os maus e redenção para os bons também acontece na religião muçulmana, nascida no mesmo caldo, no Oriente Médio. Mas nem judeus, nem muçulmanos, nem cristãos estavam sendo particularmente criativos. Zoroastro, por exemplo, já pregava a vinda de um profeta, Shaosyant, que ressuscitaria os mortos de sua cova e os levaria a um julgamento. No zoroastrismo, firmado em algum ponto entre os séculos 10 e 5 a.C., quando a hora chegar, um anjo de fogo derreterá as montanhas e o mundo será coberto por um oceano de lava. Os vivos e os mortos então terão de atravessá-lo descalços. Para os bons, será como caminhar sobre leite. Para os maus, não. Versões alternativas mesmo são mais comuns entre religiões mais antigas. Para o hinduísmo, por exemplo, que tem mais de 3 mil anos, a questão não é tanto o bem e o mal, mas a natureza do Universo. Ele seria cíclico, passando por fases de atividade e de repouso, e diversos deuses hindus parecem ter sua função específica na trama. Brahma (não pensem na cerveja), o maior deles, é o Criador. Cada dia na vida dele dura 4 bilhões de anos dos nossos - período que representa um ciclo na história do Universo, ou kalpa.

Os maias, badalados por causa de 2012, tinham essa mesma pegada cíclica. A data tão mencionada, 21/12/2012, marca o final de um ciclo num de seus calendários (eles usavam quatro calendários diferentes, dependendo da escala de tempo). Esse que ficou famoso começa em 11 de agosto de 3114 a.C. e termina depois de 1 milhão e 872 mil dias (5 125,37 anos). Ou seja, precisamente em 21/12/2012. Mas não existe uma ideia de "fim do mundo" ali. É só o fim de um ciclo mesmo, para o começo de outro.

                                                                 Calendário Maia

O inusitado é que essa visão cíclica do mundo é a que mais aproxima a religião da ciência. Sabe-se que o Universo, tal qual existe hoje, nasceu no Big Bang, há 13,7 bilhões de anos. Pelas contas dos cosmólogos, ao que parece, ele vai continuar se expandindo, até esfriar e terminar na mais absoluta sem-gracice. Contudo, existe a possibilidade de que, daqui a vários bilhões de anos (ninguém sabe quantos), o Cosmos troque a expansão pela contração. Isso levaria, em última análise, a um Big Crunch (o contrário do Big Bang), que provavelmente representaria um "reset" no Universo, para então começar tudo de novo, com uma nova expansão. Em suma, um novo ciclo. E uma coisa é certa: você estará lá. Provavelmente na forma de energia, aquilo que sobra depois que cada um dos átomos que forma o seu corpo for destruído. Mas que vai estar, vai. Então... até o próximo ciclo!
Big Bang


Obs:Aguardem o próximo post sobre as 11 teorias do fim do mundo


Postagem, texto e imagens: @KioLima

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